Professora Doutora Raquel Frizera Vassallo

Entrevista: Mulheres na Engenharia

Falar um pouco sobre a sua formação, porque escolheu engenharia e quem te incentivou nesse processo

Sempre fui uma aluna dedicada e sempre gostei de matemática e física. Mesmo assim, até o ano do meu vestibular eu não sabia exatamente o que queria. Tinha dúvidas entre engenharia elétrica (sempre gostei de ficção científica e tinha intenção de trabalhar com robótica) e comunicação social (sempre gostei de imagens, fotografia e propaganda). Entretanto, na minha época comunicação social não era um curso promissor, com muitas oportunidades. Então, devido a minha facilidade com exatas e as expectativas mais concretas com engenharia, acabei optando por engenharia elétrica. Durante o curso, fui descobrindo os temas e áreas que mais me interessavam, mas, como muitos alunos, ainda sofri com muitas dúvidas e questionamentos. Fiz iniciações científicas, que me mostraram um pouco da vida acadêmica, e estágios. A partir dessas experiências, pude amadurecer a minha ideia de seguir uma carreira acadêmica. Ao formar, passei em um concurso de professor da Escola Técnica, na unidade de Colatina. Foi uma experiência muito bacana, que serviu para me mostrar que eu seria mesmo uma professora. Foram 3 anos e meio em Colatina, até que meu orientador, o Prof. Hans, me incentivou “fortemente” para eu fazer o concurso da UFES, logo quando acabei meu mestrado. Com isso, desde agosto de 1999, me tornei professora da Engenharia Elétrica, UFES, onde ainda concluí o meu doutorado em 2004.

Desafios que você encara sendo mulher no meio da engenharia

Infelizmente, como mulher ainda enfrentamos alguns obstáculos na engenharia, devido à questão de gênero. Muitas vezes, nós mesmas, tão acostumadas com essa situação supostamente normal, não notamos essas “diferenças” até ganharmos um pouco mais de vivência e experiência. Há até mesmo ocasiões que somos coniventes com isso, sem nem perceber. Eu já passei por algumas situações, mesmo que poucas, durante a graduação, ao ouvir comentários que, por exemplo, não consideram o intelecto feminino adequado para engenharia. Isso sem mencionar, as diversas piadinhas de sempre, as quais confesso, me incomodam pouco. Mas profissionalmente, ainda acho que a mulher precisa realizar o dobro do esforço para ser reconhecida, mesmo que haja um consenso geral de que isso não exista ou que muitos profissionais do sexo masculino digam que não pensam dessa forma. Na maioria das vezes é exigido da mulher muito mais realizações para que seja considerada uma profissional da mesma competência ou ainda para que se considere suas opiniões como importantes. Sinto ainda que há um exercício da autoridade masculina muito mais forte sobre às colegas mulheres do que sobre os colegas homens. Muitos se sentem mais confortáveis e empoderados para impor sua autoridade e poder sobre um mulher do que sobre um colega do mesmo gênero. Entendo que, uma vez que somos criados em uma sociedade comumente machista, esse comportamento é muitas vezes inconsciente e automático, mas é preciso abrir os olhos para isso. Tanto as mulheres quanto os homens devem prestar mais atenção quando vão definir suas opiniões e ações.

Experiências memoráveis que teve no mercado de trabalho (boas ou ruins)

Já passei por algumas experiências bem ruins, mas não quero falar delas. Prefiro falar das boas… Não sei se tenho alguma experiência muito memorável para ser relatada. O que posso dizer é que sinto grande satisfação e sentimento de dever cumprido quando vejo nossos alunos se formando, indo para o mercado de trabalho, abrindo suas empresas, se tornando bons profissionais, professores ou pesquisadores, se destacando nacionalmente ou internacionalmente. Fico mais feliz ainda quando esses alunos são capazes de se voltar para universidade e reconhecer o nosso esforço. Isso, para mim, é o que dá sentido ao meu trabalho.

Uma mensagem para as mulheres que querem se tornar engenheiras

Sigam em frente, estudem e não deixem que ninguém resolva nada por vocês ou defina o que vocês são capazes de fazer. E isso não vale só para as mulheres, vale para os homens também, ou qualquer outro gênero que você se considere. Somos nós que devemos ditar as nossas escolhas. Podemos ouvir opiniões e sugestões para nossas vidas, mas não ordens!